terça-feira, 30 de novembro de 2010

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Avisa logo me dando tempo para andar mais devagar
Assim retardo o final
Mas o que faço com respostas vazias,
Sem ter certeza se tenho condições de chegar à resolução correta?
A única coisa que tem me acalmado é andar descalço,
Voltar a admirar troncos retorcidos como se um dia fossem se endireitar

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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Traduzir o que tenho aqui dentro é risco,
Risco de distorcer verdades
Por que deixo que uma única palavra desgrace meus sentimentos?
Por que tem tanto valor um conjunto de signos enfileirados?
Por que letras e frases são regras para fixar pensamentos no mundo exterior?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

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Quando encontrava um espelho, dizia adeus
Foi porque no desejo de me separar vivia encontros
Todo o final é começo

Na infância

Aceitei o azul, cinza e marinho
Fui seduzida pelo vermelho, laranja e lilás
Aprendi a amar verdes e amarelos
E tive ódio do preto, marrom e ocre
Fiz minhas amizades com cor de rosa, ou pintadas de turquesa
Dedilhei idéias em púrpura
Pra descobrir mais adiante que tudo é branco, branco e branco...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

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Não vou permitir que aves de rapina nasçam da minha mente
Daquelas que já vieram ao mundo, não sei mais o que fazer
Não consigo parar de alimentar filhos que não quero
Que me obrigam a dar do meu sangue dia e noite
No girar dessa roda encontrarei explicações?
Ao encostar minha cabeça sobre a sua, penso que sim.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

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Ainda bem que todo o fim é um começo,
Que no nascimento reside a esperança,
Que existam mais de dois, três, mesmo assim nenhum igual a mim ou você
Que é possível transformar ódios e remorsos,
Que exista dia e noite,
Que quando não tiver ninguém, ainda assim o vento tocará seu corpo
Que poucos conseguem enxergar o mistério da impossibilidade
Que quem diz amar depressa facilmente decide desgostar
Por isso, ainda bem que todo o fim é um novo começo

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11
“Olhava para Tomas. Não tinha os olhos fixos nos dele, mas uns dez centímetros acima, nos cabelos, que exalavam o cheiro do sexo de outra.
Disse: “Tomas, não agüento mais. Sei que não tenho direito de me queixar. Desde que você voltou para Praga por minha causa, estou me proibindo de ter ciúmes. Não quero mais ser ciumenta, mas não consigo evitar, não tenho forças para isso. Você tem que me ajudar, por favor!”.
Ele a pegou pelo braço e a levou a uma praça onde costumavam passear alguns anos antes. Nessa praça havia bancos: azuis, amarelos, vermelhos. Sentaram-se e Tomas lhe disse: “Eu a entendo. Sei o que você quer. Está tudo arranjado. Agora, você vai ao monte Petrin.”
Imediatamente, ela foi tomada de angústia: “Ao monte Petrin? Fazer o quê, no monte Petrin?”.
“Quando chegar lá em cima você vai entender.”
Não tinha vontade nenhuma de ir; seu corpo estava tão fraco que não conseguia se levantar do banco. Mas não podia desobedecer a Tomas. Fez um esforço para se levantar.
Olhou para trás. Ele continuava sentado no banco e lhe sorria quase alegre. Fez um gesto com a mão, sem dúvida para encorajá-la.

12
Quando chegou ao monte Petrin, a colina verdejante situada no centro de Praga, notou com espanto que não havia ninguém. Era curioso, pois, em geral, multidões sempre passeavam por ali. Sentia-se angustiada, mas os caminhos estavam tão silenciosos e o silêncio era tão repousante que relaxou e se entregou confiante. Subiu, parando e vez em quando para olhar para trás. A seus pés, via um aglomerado de torres e pontes. Os santos brandiam punhos ameaçadores, os olhos de pedra fixados nas nuvens. Era a cidade mais bonita do mundo.
Chegou ao topo. Atrás das barracas onde geralmente vendiam sorvetes, cartões-postais e souvenirs (os vendedores não se encontravam ali naquele dia), estendia-se um gramado com árvores esparsas. Viu alguns homens. Quanto mais se aproximava, mais diminuía o passo. Eram seis. Estavam imóveis doi iam e vinham muito lentamente, como jogadores num campo de golfe quando examinam o relevo, sentem o peso do taco e se concentram para jogar.
Finalmente chegou perto deles. Dos seis homens, estava certa que três tinham ido ali para representar o mesmo papel que ela: estavam intimidados, davam a impressão de querer fazer uma porção de perguntas, mas de ter medo de incomodar, assim preferiam calar e olhavam em torno com ar interrogativo.
Os outros três irradiavam uma cordialidade indulgente.
Um deles segurava um fuzil. Ao ver Tereza, fez-lhe um sinal e disse com um sorriso: “Sim, é aqui”.
Ela o cumprimentou com um movimento de cabeça, sentindo-se terrivelmente encabulada.
O homem acrescentou: “Para que não haja erro, é mesmo a sua vontade?”.
Seria fácil dizer “não, não é minha vontade”; mas lhe era impossível trair a confiança de Tomas. Que desculpa daria, quando voltasse para casa? Por isso disse: “Sim. Claro. É a minha vontade”.
O homem do fuzil continuou: “Precisa compreender por que lhe faço essa pergunta. Só fazemos isso quando temos certeza de que aqueles que vêm nos procurar decidiram morrer por sua própria vontade. Consideramos isso um serviço que lhes prestamos”.
Seu olhar interrogativo continuou pousando em Tereza e ela se viu forçada a lhe garantir outra vez: “Não tenha receito! É a minha vontade”.
(...)
13
Um dos assistentes se aproximou de Tereza sem uma palavra. Segurava uma venda azul-escura.
Ela compreendeu que ele queria lhe vendar os olhos. Balançou a cabeça e disse: “Não, quero ver tudo”.
Mas não era essa a verdadeira razão de sua recusa. Não tinha nada dos heróis que resolvem encarar bravamente direto nos olhos o pelotão de fuzilamento. Ela tentava apenas retardar sua morte. Achava que no momento em que seus olhos estivessem vendados, estaria na antecâmara da morte, sem esperança de volta.
O homem não tentou coagi-la e a tomou pelo braço. Andavam pelo imenso gramado e Tereza não conseguia escolher uma árvore. Ninguém a obrigava a se apressar, mas ela sabia que, de toda maneira, escapar era impossível. Vendo diante de si um castanheiro em flor, aproximou-se. Encostou-se no troco e levantou a cabeça: via a folhagem atravessada pelos raios de sol e ouvia a cidade, que murmurava ao longe, fraca e molemente, como a voz de mil violinos.
O homem ergueu o fuzil.
Tereza se sentia sem coragem. Estava desesperada com sua fraqueza, mas não pôde dominá-la. Disse: “Não, não é a minha vontade”.
(...)
14
Abraçava a árvore, o corpo sacudido por soluços, como se aquilo fosse não uma árvore, mas o pai, que havia perdido, o avô, que não conhecera, o bisavô, o trisavô, um homem infinitamente velho vindo das profundezas mais distantes do tempo para lhe oferecer o rosto na casca rugosa da árvore.
Virou-se. Os três homens já estavam longe, iam e vinham no gramado como jogadores de golfe, e o fuzil na mão do homem armado lembrava mesmo um taco de golfe.
Descia as alamedas do monte Petrin, guardando no fundo da alma a saudade do homem que deveria tê-la fuzilado e não o fizera. Tinha necessidade dele. Enfim, precisava de alguém que a ajudasse. Tomas não a ajudaria. Tomas a enviaria para a morte. Só outra pessoa poderia ajudá-la”.

Trecho de “A insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Análise

Espero que as preocupações não sejam equivalentes,
Mas tudo indica que são.
Olha só, existem inúmeras maneiras de disfarçar o que se sente,
Mas o que realmente ajuda são os olhos de quem se quer esconder algo,
Pois a sua mente pode distorcer a realidade sem que eu me dê o trabalho de disfarçar o que realmente sinto.
O problema dessa brincadeira é que o que tento esconder é muito bom.
Portanto, não há motivo aparente para impedir que tenha acesso a esse conhecimento (conhecimento de que te quero muito bem)
Mesmo que minha razão diga para não se preocupar com a verdade, as emoções de um passado consolidado me fazem recuar dessa intenção de me entregar sem medo de ser novamente arrastada para baixo
Isso também tem te preocupado?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dieu

Tua cor recai sobre mim,
E eu, sendo tão maldita, me lavo constantemente para me tornar igual a todos eles
Mas algo resiste aqui dentro, algo que devora todos os maus pensamentos
O algo é vontade,
Vontade de avançar sobre o espaço que se abriu entre mim e você