domingo, 15 de julho de 2007

Porque dizem que nenhum homem é uma ilha

Nunca foi fácil admitir nossos erros. Por quê?
Porque antes éramos castigados pelos nossos pais.

Hoje não admitir nossos erros, em alguns casos, pode impedir que evitemos mais desentendimento.

Erros
O que é um erro? O que é errar?
Nascemos todos fadados a errar. Só sei disso.
Dizem que a vida é um palco onde atuamos sem antes ter certeza de qual é o nosso papel em cada cena. E como a vida é única, nunca mais poderemos ter a chance de retornar momentos antes das decisões tomadas para corrigi-la.

Será que a vida é única?
Se a resposta for sim, posso terminar aqui. Se a resposta for não, também. Também porque quando, supostamente nascemos de novo, não temos lembranças do que pode ter acontecido no passado. Ou será que temos? Se a resposta for não, mais uma vez não tenho mais o que escrever. Se a resposta for sim, como dizem alguns “entendidos” no assunto, nosso subconsciente deve ter algumas informações que nos ajudam a tomar decisões, especialmente aquelas que dizem respeito ao nosso caráter.

Nosso caráter
Nosso caráter pode ter sido construído pelas informações genéticas, vindas de nossos pais, nos ambientes onde vivemos, com os estímulos que recebemos dos diversos meios de comunicação, pelas pessoas que nos influenciaram na infância e durante todo o resto da vida, além dos nossos pais e parentes próximos. Ou, também, pode ter sido construído com as informações que carregamos de outras vidas, se é que às tivemos.
Se nosso caráter foi formado, e está sendo, desde outras existências, isso significa que a nossa tendência será sempre evoluir. Mas se nosso caráter está sendo formado apenas durante essa vida, se essa for à única que temos, é preciso nos lembrar que o tempo pode ser curto, que a qualquer momento podemos deixar de ser, ou seja, de existir.
Entende porque devemos tomar tanto cuidado com as nossas escolhas?
Mas para quê complicar tanto? Se tudo for vivido tendo em vista a verdade, nada poderá ser difícil. Porque a verdade é fácil de carregar.
Verdade fácil de carregar? Nem tanto assim, ou melhor, nem todas assim.
Mas pensando dessa forma podemos chegar à conclusão de que viver não é fácil.
Viver não é fácil? Ou sou eu que complico?
Se viver não é fácil, foi porque a natureza quis assim? Ou foi porque viver em sociedade dificultou tudo?
Bem, na escola aprendemos que viver em sociedade foi uma forma que nós, humanos, encontramos para melhorar nossa sobrevivência. Fomos capazes de aprender com o próximo e conjugar nossos conhecimentos com o único objetivo, que era melhorar nossas vidas. Criamos leis para nos protegermos uns dos outros, criamos escolas e livros para não deixarmos que as gerações futuras perdessem tudo o que tínhamos conquistado. Desenvolvemos tecnologias fantásticas capazes de nos levar a lugares impossíveis de se chegar a pé ou a cavalo. Remédios que aumentaram a expectativa de vida da nossa espécie. Tudo isso graças à vida em comunidade, graças à troca de conhecimento, a compaixão pelo outro que na verdade representa a mim mesma!
Bem, se for eu que complico a vida, como posso fazer isso se o que mais quero é viver bem? Porque a vida não é feita somente com as minhas escolhas, mas com as escolhas que são tomadas por todos os outros.
Então eu posso dizer que quem complica a vida não sou eu, mas as decisões de outros?
Está ficando difícil...
Se a resposta a essa última pergunta for sim, eu estarei abrindo possibilidades de culpar qualquer um pelas coisas ruins que acontecem comigo. Ora, se eu concordar com isso estarei também concordando que não sou livre. Não sou livre porque minha completa felicidade é impedida pelas ações de outros. Pensar dessa forma me levaria a uma condição medíocre, de alguém que foge de qualquer responsabilidade.
Mas, se minha vida, para ser boa, depende dos outros, em parte, também depende de mim, já que eu existo e minhas ações também influenciam no mundo. Dessa forma eu concluo que tomar decisões pensando em mim e no outro é a única maneira de melhorar a minha vida. A vida do outro é minha vida também. Se o outro estiver bem, eu estarei bem. O outro não pode ser visto apenas como o da mesma espécie, mas como tudo o que vive. Pensando dessa forma consigo imaginar que a salvação do planeta depende de pequenas decisões que tomamos.

Se admitirmos que procurar apenas nos satisfazer, sem nos preocuparmos com o outro, é um erro, poderemos mudar e começar fazendo o que seja certo para todos nós. Nascemos fadados a errar e a aprender. A vida é um palco, no entanto, sem que haja um script já definido, temos liberdade para mudar o rumo da nossa história. Não podemos voltar atrás, mas temos à frente condições de agir melhor graças ao conhecimento que acumulamos. No entanto não podemos nos esquecer que a ação conjunta é o único meio de melhorar nossas condições.

3 comentários:

Anônimo disse...

O mundo na verdade é uma corrente de seres humanos, um círculo de
acontecimentos que vão interagindo e afetando-se uns aos outros... Creio que
pensas dessa forma tbm... Como vimos no filme Babel, um acontecimento ao sul
vai gerar suas consequências ao leste, norte e oeste... Os erros cometidos
por nós, afetarão sem dúvida o vizinho, e o vizinho do vizinho e assim
vai...
Errar, como já virou clichê, aceitemos que é humano... Mas errar de forma
consciente, sabendo qual o ponto exato do erro, qual a origem do equívoco, é
egoísmo e crime! Quem sabe as conseqüências negativas que um ato seu pode
causar, não tem direito de cometê-lo!
Sobre essa história de o que é o erro, o que é a verdade, acredito que nunca
ninguém vai chegar à conclusão alguma, pelo menos de forma permanente... As
religiões têm tentado, os gregos tentaram, mas penso que isso é algo
bastante particular... Apenas recomendo que sigamos a lógica do bom senso,
da solidariedade, deixando de lado os egocentrismos que às vezes nos
assolam...

Suelen Lopes disse...

Baixou Sartre em vc hein? Já dizia o filosófo da contestação: "Nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela engaja a humanidade inteira".

Bom, adoro reflexões e vou te acompanhar nessa: se as nossas ações refletem diretamente no mundo , devemos não somente ser objeto da História , mas seu sujeito, certo? Por que não tomar partido tomar partido diante dos dilemas do mundo. Estou falando de engajamento, entende? É essencial. Mais do que isso é necessário. Pelo amoooor de Deus, os homens devem ser arrancados de sua “consciência feliz” , da sua ignorância perante o mundo e tomar atitudes para transformar. É isso aí assumir uma posição no mundo, tomar partido , mesmo que isso signifique assumir os riscos decorrentes desta atitude. Não devemos nos recusar a viver nossa liberdade para viver o conformismo e a pseudo-respeitabilidade da ordem estabelecida. Se recusar "a ser livre" nos transforma em parasitas sociais, em seres adestrados por normas de condutas impostas.

Viva a liberdade!!!!!!

Anônimo disse...

Caramba! Que texto maravilhoso, Lilis!! Parece uma aula (sensacional) do Marcelo. Sem exageros, você me arrasou. Me fez compreender que se "errar é humano", como diz o ditado, consertar um erro é mais humano ainda. Fugir, não assumir ou depender de outras pessoas para construir a própria vida é dependência, tolice e imaturidade.
Você deu um nó na minha cabeça (no bom sentido, hehe)! Me fez filosofar, refletir, repensar muitos momentos e entender que é sempre bom arriscar tudo. Apostar todas as cartas. Dizer o que está dentro, sem pudores, sem máscaras.
Demais! Beijo grande, inté.